Não tenho dúvidas de que todos saíram emocionados da exibição do primeiro corte (esta é cena de uns dois meses, já). E foi apenas o primeiro corte, ainda abrupto, um tanto desfragmentado, quem sabe até sem o rítmica fervilhante de 'uma noite de amor'. Mas a história estava ali a preencher de sutilezas daquela manhã de todos nós. Parecia realmente um filme. Talvez o seja de fato um filme, se não existisse à parte dessa história tantas outras histórias. Inclusive a dos próprios realizadores. Mas como em todo filme, se espera o ponto de virada, também em um processo de se fazer filmes, assim o esperamos. A dramaticidade, ou não, da história depende, na minha opinião, da intensidade dos personagens.
No caso da vida real - essa de se fazer filmes - depende da profundidade com que se envolve no processo, que muitas vezes foge das limitações de apenas um contrato de trabalho. Obviamente que esta intensidade do envolvimento no processo - quando as motivações não estão ligadas a dinheiro ou a status - tem a ver com o encontro com o outro e a identificação pessoal à história. Ou seja, tem a ver com fato de se estar com o 'coração aberto'. Um coração que não se esconde por detrás das máscaras ambiciosas de festivais, de 'kikitos', de 'oscares', mas está inteiramente ligado ao querer encontrar o outro e a deixar o sentimento transcorrer no tempo... narrativo. Neste tempo do olhar de cada um sobre a película.
O diretor Russo Alexander Sokurov é um dos que afirma que não monta ações, mas monta sentimentos. Ou seja, não se sobrepõe apenas camadas de imagens, mas de sobrepõe sentimentos, vivências dos personagens, dos realizadores, quem sabe até de um hipotético público à devir. E fazer sentir é o cinema transcorrendo no tempo. Fazer sentir é tempo, mesmo que seja o tempo de uma narrativa com início, meio e fim, como em todos os contos de fadas, as histórias de amor de Shakeaspeare, menos nos filmes 1 e 2 de uma trilogia. Esse tempo que é desfragmetando, repleto de interstícios, de rupturas, de enfrentamentos. Tempo que independe da história quando se trata do 'fazer', afinal: aqueles 12 dias de set passaram voando; o frio na barriga da pré-produção foram um turbilhão de ansiedades; o pós-filme continua sendo a depressiva sensação de um 'pós-coito' na noite de despedida. Mas, o pós-filme é longo demais, quando os processos burocráticos, financeiros e inclusive os erros humanos, meramente humanos, perturbam o tempo da narrativa do fazer...Assume-se a responsabilidade do tempo de se fazer um filme, ou assume-se a responsabilidade da insana atitude de fazer um filme apaixonante e envolvente sem recursos...
No fim o tempo transcorrido na película, não deixa de ser resumido como números, documentos, responsabilidades...assim, o drama parece tomar conta ainda mais da 'mágica' e dolorida arte de fazer cinema independente. Quanto mais se ama, mais se assume riscos de errar? Qual o limite do amor e da alma entregue para a sétima arte? Talvez filmes não passem de farsas de si mesmo, quando nós não passamos da farsa de nossos próprios sentimentos que transcorrem no tempo...
Tudo isso é muito bonito, não tenho dúvida. Mas, tentando objetivar ‘Simone’ ou o seu primeiro corte já anda a circular por aí e não me admira que esteja a arrancar suspiros até dos mais incrédulos. Começamos a fase de correr atrás de vendas, de possibilidades de finalização, de projetar ‘Simone’ para 2012. E não vai ser pouco coisa, não. Aliás, nunca esperamos que Simone fosse pouca coisa, ou ao menos, passasse despercebido. Este filme foi realizado de uma forma diferenciada, baseado na crença única de que é possível fazer: com intuição, com baixo orçamento, com um bom roteiro, com o envolvimento sem medida dos realizadores com a história....
E Simone nem foi às telas e já está mexendo, causando reviravoltas nesses lugares que não são os do roteiro acabado, está justamente causando reviravoltas naqueles que fizeram do filme o sentido de suas vidas. E isso mais uma vez reitero: não é pouca coisa não...pois chegamos ao ponto de não saber mais quem é personagem...se os do filme ou se nós mesmos por detrás das câmeras...Tranquilidade mesmo, neste sentido, pode sentir Simone Telecchi que é única que tem certeza que foi personagem, história e segue sendo personagem agora no pós-coito fílmico...Não é mesmo Simone Telecchi?
Voltamos por aqui!! Por que há um longo caminho pela frente para este filme e para todos nós!! Agora com textos quentinhos quase que diariamente! Afinal, falta pouco, bem pouquinho para ‘Simone’ fazer uma reviravolta na sua vida também!!