domingo, 18 de dezembro de 2011

Quando o 'tempo' se torna o grande personagem de um filme..





Não tenho dúvidas de que todos saíram emocionados da exibição do primeiro corte (esta é cena de uns dois meses, já). E foi apenas o primeiro corte, ainda abrupto, um tanto desfragmentado, quem sabe até sem o rítmica fervilhante de 'uma noite de amor'. Mas a história estava ali a preencher de sutilezas daquela manhã de todos nós. Parecia realmente um filme. Talvez o seja de fato um filme, se não existisse à parte dessa história tantas outras histórias. Inclusive a dos próprios realizadores. Mas como em todo filme, se espera o ponto de virada, também em um processo de se fazer filmes, assim o esperamos. A dramaticidade, ou não, da história depende, na minha opinião, da intensidade dos personagens.

No caso da vida real - essa de se fazer filmes - depende da profundidade com que se envolve no processo, que muitas vezes foge das limitações de apenas um contrato de trabalho. Obviamente que esta intensidade do envolvimento no processo - quando as motivações não estão ligadas a dinheiro ou a  status - tem a ver com o encontro com o outro e a identificação pessoal à história. Ou seja, tem a ver com fato de se estar com o 'coração aberto'. Um coração que não se esconde por detrás das máscaras ambiciosas de festivais, de 'kikitos', de 'oscares', mas está inteiramente ligado ao querer encontrar o outro e a deixar o sentimento transcorrer no tempo... narrativo. Neste tempo do olhar de cada um sobre a película.

O diretor Russo Alexander Sokurov é um dos que afirma que não monta ações, mas monta sentimentos. Ou seja, não se sobrepõe apenas camadas de imagens, mas de sobrepõe sentimentos, vivências dos personagens, dos realizadores, quem sabe até de um hipotético público à devir. E fazer sentir é o cinema transcorrendo no tempo. Fazer sentir é tempo, mesmo que seja o tempo de uma narrativa com início, meio e fim, como em todos os contos de fadas, as histórias de amor de Shakeaspeare, menos nos filmes 1 e 2 de uma trilogia. Esse tempo que é desfragmetando, repleto de interstícios, de rupturas, de enfrentamentos. Tempo que independe da história quando se trata do 'fazer', afinal: aqueles 12 dias de set passaram voando; o frio na barriga da pré-produção foram um turbilhão de ansiedades; o pós-filme continua sendo a depressiva sensação de um 'pós-coito' na noite de despedida. Mas, o pós-filme é longo demais, quando os processos burocráticos, financeiros e inclusive os erros humanos, meramente humanos, perturbam o tempo da narrativa do fazer...Assume-se a responsabilidade do tempo de se fazer um filme, ou assume-se a responsabilidade da insana atitude de fazer um filme apaixonante e envolvente sem recursos...

No fim o tempo transcorrido na película, não deixa de ser resumido como números, documentos, responsabilidades...assim, o drama parece tomar conta ainda mais da 'mágica' e dolorida arte de fazer cinema independente. Quanto mais se ama, mais se assume riscos de errar? Qual o limite do amor e da alma entregue para a sétima arte? Talvez filmes não passem de farsas de si mesmo, quando nós não passamos da farsa de nossos próprios sentimentos que transcorrem no tempo...


Tudo isso é muito bonito, não tenho dúvida. Mas, tentando objetivar ‘Simone’ ou o seu primeiro corte já anda a circular por aí e não me admira que esteja a arrancar suspiros até dos mais incrédulos. Começamos a fase de correr atrás de vendas, de possibilidades de finalização, de projetar ‘Simone’ para 2012. E não vai ser pouco coisa, não. Aliás, nunca esperamos que Simone fosse pouca coisa, ou ao menos, passasse despercebido. Este filme foi realizado de uma forma diferenciada, baseado na crença única de que é possível fazer: com intuição, com baixo orçamento, com um bom roteiro, com o envolvimento sem medida dos realizadores com a história....

E Simone nem foi às telas e já está mexendo, causando reviravoltas nesses lugares que não são os do roteiro acabado, está justamente causando reviravoltas naqueles que fizeram do filme o sentido de suas vidas. E isso mais uma vez reitero: não é pouca coisa não...pois chegamos ao ponto de não saber mais quem é personagem...se os do filme ou se nós mesmos por detrás das câmeras...Tranquilidade mesmo, neste sentido, pode sentir Simone Telecchi que é única que tem certeza que foi personagem, história e segue sendo personagem agora no pós-coito fílmico...Não é mesmo Simone Telecchi?

Voltamos por aqui!! Por que há um longo caminho pela frente para este filme e para todos nós!! Agora com textos quentinhos quase que diariamente! Afinal, falta pouco, bem pouquinho para ‘Simone’ fazer uma reviravolta na sua vida também!!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Monta/desmonta uma mesma história: tantas histórias

Não estamos nas ruas de Paris, nem no humor de Woody Allen, quanto menos no que poderia se chamar de filme...Mas já é uma boa história, começa a tomar forma, conteúdo e as subjetividades do seu autor, aliás seus autores (desculpa Juan Zapata mas é difícil se desapegar de sua história). As marcas evidentes de cada um, até mesmo o celular de um integrante da equipe na cena do banheiro e quem não contribuiu com  detalhe? Alguns, inclusive, com detalhes sórdidos. Sei, que andamos sumidos por aqui, quem nos vê tem margem para pensar que 'Simone' já acabou. Que nada 'Simone' recém começou sua trajetória. Enquanto estamos em silêncio, Nathália Silva talvez não consiga durmir com a ensurdecedora vontade de montar/desmontar sobre o roteiro, sobre sua própria versão de roteiro.

E foi depois de vinte dias que Nathália nos apresenta suas duas versões do primeiro corte de 'Simone'. De imediato fomos despertados do silêncio que escolhemos estar. Não podemos negar: diante de nós miramos uma primeira montagem um tanto brusca, não diria tosca, mas aparentemente sem vida...No entanto, a história estava ali, dando seus primeiros suspiros de existência. E não é que tudo parecia ter mudado! Simone como sempre uma grata surpresa, não sei exatamente como explicar sua atuação, pois penso que talvez não tenha atuado em nenhum momento, apenas se deixado viver...Cris perde muito do seu encanto, felizmente era assim que tinha que ser. Pedro...Sinto falta de Pedro, sentimos falta de Pedro. E como é impressionante os diferentes olhares que temos sobre a mesma história. Mas, a história teria mudado, os personagens teriam mudado ou nós? Melhor não tentar encontrar estas respostas... 

Sim, tudo isso faz parte do processo de construção de um filme. Não vamos ficar com a consciência pesada, especialmente em um filme tão coletivo e colaborativo como foi 'Simone'. E Nata depois de uma longa conversa na Zapata Filmes volta para casa com a missão de apresentar mais uma versão de corte para os próximos dois dias...Foi, então que sentamos no sofá da produtora mais uma noite...E aquele detalhe, aquela trilha, aquela nova contextualização da história dos personagens foi enchendo de vida aquilo que já era uma colorida fotografia.  Estávamos orgulhosos, mesmo cientes de tantas coisas que ainda tem que se fazer até a finalização. Por fim, é isso: Simone está aos poucos mais uma vez nos invadindo com suas cores, dores e buscas.

Mas não posso deixar de fazer uma ressalva, o fato de estarmos em silêncio não significa que não tenhamos trabalhado muito por aqui. Obviamente que houve um bom tempo de recuperação da exaustão de se fazer um filme, ainda mais quando ele é feito sobre as condições de se estar sem orçamento. E as consequências não foram poucas. Só quem fez um filme assim, deve saber da bipolar sensação de dor e alegria. 'Queremos' um longo e bonito caminho para este filme, e isso demanda muito trabalho, entrega e a gana latinoamericana de querer tocar o outro...Por isso, estamos aqui às 2 horas da manhã cuidadosamente fechando envelopes...Adelante 'Simone', que tem muita coisa boa ainda para vir por aí...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Importantes estarmos todos juntos, mas às vezes nos sentimos mais que sozinhos!!!

Reunidos na sala Paulo Amorim, ontem à noite, estavam cerca de 30 pessoas que trabalham, apreciam ou criticam cinema. Todos envoltos com as mesmas preocupações: qual o entendimento da IECINE e do Governo do Estado do RS para as políticas audiovisuais? Também estávamos lá! Ser um realizador independente exige, por vezes a imersão nestes espaços, mesmo que em alguns momentos somos cercados pela vontade de abandondar qualquer sentimento de coletividade e admitir: é preciso se virar sozinho. Por que talvez estejamos sozinhos. E essa foi uma das frases que ouvi de Juan ZApata ontem. Seu desencantamento era grande, talvez não tivesse tido um bom dia. Mas creio que pesava muito mais a decisão de ter feito um filme e arcar com as consequências de o ter feito na 'cara e coragem', e agora possivelmente ele esteja se sentindo sozinho.

Uma solidão que não provém do processo criativo ou da equipe envolvida, mas uma solidão proveniente do próprio mercado audiovisual. Para evitar esta possível sensação de 'solidão' tentamos durante todo o processo do SIMONE criar mecanismos pela qual as pessoas se sentissem parte deste fazer 'cinema por amor', ou deste fazer 'cinema como ganha pão'. Doamos amor demais e agora tentamos passar a parte do ganha pão, afinal todos têm direito. Entre os mecanismos que tentamos para viabilizar o SIMONE, esteve o financiamento via crowdfunding, ou financiamento pela multidão, por meio das plataformas da internet. Nossa intenção era conseguir 30 mil reais, dinheiro suficiente para garantir as filmagens dE SIMONE. Por meio do site catarse.me, cada pessoa podia doar de R$ 10 a R$ 3 mil reais. OK, não conseguimos este financiamento. Entre os motivos levantamos algumas hipóteses e continuamos a nos questionar sobre elas: Falta de uma comunicação mais eficiente? Falta de consciência colaborativa? Valor estimado muito alto, que foge do restrito campo de nossas relações pessoais e familiares?

Juan acabou financiando a produção do seu filme com dinheiro do próprio bolso ou com o dinheiro de financiadores diretos como Alejandro Millan que doou para o projeto R$ 2.500 sem pestanejar e quem sabe sem tão grandes interesses, que fujam a arte de fazer e acreditar em um projeto. Mas, antes mesmo de pensarmos em financiamento, pensamos em uma forma de produzir coletivamente, queríamos propor um novo modelo que foge à regra de se fazer cinema no Brasil. Afinal, não fizemos parte do grupo dos produtores financiados pelo estado, dos que trabalham com qualquer lei, aliás, não fizemos nem parte de quem trabalho com baixo orçamento. Por isso, criamos o movimento 'cinema em rede', pensando que seria possível se sentir menos sozinhos neste mercado. Não, nos enganamos, não! Por meio desse movimento SIMONE foi feito, por profissionais que dedicam seu tempo, sua arte e sua vontade para o filme. No entanto, isso ainda é pouco, muito pouco dentro de um todo!!

mais uma vez nos sentimos sozinhos, na batalha diária de pensar, projetar, querer continuar  fazendo. Afinal, Simone recém está começando. Mas, nem por isso deixamos de acreditar no coletiva e na importância da imersão em espaços em que se encontram realizadores de baixo, alto, médio e sem orçamento....Estamos unidos todos pela mesma vontade, não? Contar histórias e para isso, dependemos do outro sempre, seja para se ter boas histórias para contar!!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Continuamos a tal 'ladainha' de baixo orçamento...

Juan Zapata me ligou eufórico durante o almoço. Na noite anterior ele me dizia que os valores mencionados no texto que escrevi abaixo eram muito menores do que os percentuais que representavam uma produção de longa de ficção no Brasil. Sim, concordava com ele, no entanto, tive receio de fazer conparações entre nossas reais condições de produção, e as condições que deveriam se ter para fazer um filme. Assim, entendemos o quanto é difícil esboçar valores quando se está fazendo cinema sem recursos.

Ou seja, ele me ligou para que lhes escrevesse mostrando o quanto é difícil pensar em valores comparativos para fazer cinema independente no mercado brasileiro. Afinal, quais seriam os paramêtros que deveríamos seguir para saber o valor do mercado tradicional que estamos fazendo este filme? O que sabemos é que o fizemos com R$ 42 mil até este momento, obviamente que sem edição e finalização. Sabemos também que os cachês dos profissionais envolvidos no projeto e que a princípio (sim, por que acreditamos que todos vão receber) doaram estes valores somam mais que 150 mil reais. 

Assim, nossas perguntas continuam sendo: o que é cinema de baixo orçamento no Brasil? Como se sobrevive a um mercado em que se depende de Lei de Incentivo, editais, burocracias ou poupança pessoal? E então entre concepção do argumento, desenvolvimento do roteiro, amadurecimento do roteiro, escolha dos atores e da equipe e captação de recursos para pré-produção, produção e rodagem passa o tempo suficiente para se fazer quantas histórias? Isso sem mencionar o tempo a mais que leva-se para finalizar um filme e estreá-lo. Olha, envelhecemos no mínimo 5 anos nessa 'ladainha' toda. Tempo suficiente para que todas as pessoas envolvidas mudem algumas concepções de vida, imagina, então o risco que corre a história de mudar! SIMONE era para ter sido feito há cinco anos atrás, não foi por que a nossa protagonista ficou grávida, mas também, por que talvez Juan tenha se dado conta dos riscos que assumiria na época fazendo um filme sem orçamento e sem equipe.

Em cinco anos todos mudamos muito, Simone especialmente que cada vez mais se distancia da Simone 'real' na qual o filme se baseia. Assim, a história mudou. Juan ZApata já procurou no roteiro tantas coisas mais, sem falar nos outros atores que mudaram tantas vezes., por falta de grana - para se r mais exata de aproximadamente 4 mil reais- deixamos de trazer uma atriz mexicana que trabalhava a mais de um ano no roteiro. Por sorte, por muiita sorte, encontramos com Natália Mikeliunas que foi uma escolha desencontrada, muito bem encontrada na história.

A única coisa que me parece que não mudou ainda neste tempo todo são os modelos tradicionais e estanques de se fazer cinema no Brasil. OK, não vamos exagerar, creio que muitas coisas já avançaram neste sentido, acho que o cinema e o audiovisual nunca estiveram com tão 'bons olhos' diante do poder público, do público brasileiro. Mas, ainda somos a maioria no limbo deste tempo - deste esperar-, sem conseguir definir qual é o valor mesmo para comparar cinema de baixo orçamento se ele fosse feito com alto orçamento. Alguém nos ajuda a entender isso?


Agora é hora de sair do viés poético deste blog e adentrar no mundo burocrático e mais calculista (literalmente) dos números. Papo chato, mas importante e que anda nos rondando a todo momento! Definitivamente não há como fugir desse assunto!!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Entre as leves advertências...nosso retorno!!

Ontem levei sérias advertências do diretor de SIMONE e 'leves' críticas - mesmo que sem ser de maneira formal - sobre minha forma de linguagem por aqui. A frase foi: 'ficou muito mais no literário e poético e está se esquecendo de ser mais transparente ao processo'. Vou ser sincera que doeu um pouco tais advertências, não pela linguagem que é muito particular e uma escolha devidamente feita para a proposta do blog, mas doeu sobre a transparência no processo. O fato é que depois das filmagens de SIMONE muita coisa mudou: nossos horários, novos trabalhos, novas metas dentro da ZApata para serem atingidas. Ou seja, acabou o momento único e exclusivamente dedicado ao filme, apesar dele continuar acontecendo e por mais que muitas coisas ainda precisam ser feitas. No entanto, passamos as últimas duas semanas nos organizando, projetando, buscando, dedilhando novas formas de captar recursos, de continuar projetos antigos , de buscar novos trabalhos com urgência e ainda todos com horários bem arbitrários. No meio desse turbilhão de coisas nos desencontramos. Passei uma semana correndo atrás de Juan ZApata para uma conversa, por isso tinha motivo para contrapor sua advertência, cabível obviamente, no entanto, um tanto 'injustas'. Deixamos de lado esses 'desabafos internos' - mesmo que eles sejam consequência de todo este processo - e passamos as novas pautas. 


Enfim, como é mesmo fazer cinema indenpendente com baixo orçamento? Descobri que essa é uma resposta mais que difícil de responder, sem me aprofundar em outras experiências e numa vasta pesquisa (coisa que faremos para o livro de SIMONE que está a caminho), por isso tenho desviado do assunto, mesmo que ele seja pautado o tempo todo nestes bastidores. No entanto, temos a experiência de SIMONE como a matéria-prima mais palpável para entender como isto é possível em um país que quando se menciona baixo orçamento se está pensando em no mínimo meio milhão de reais. Ontem, enquanto conversavámos Juan Zapata e eu, tentávamos pensar de que forma mostrar com dados concretos como foi este trabalho. E definir como loucura seria pouco, especialmente se levarmos em conta que fizemos um longa-metragem sem um produtor executivo e um diretor de produção. Mesmo que Juan ZApata assine como produtor executivo, ele está longe de desempenhar devidamente este papel, e admite isso com maior sinceridade. Juan ZApata não é produtor executivo, nem administrador, quanto menos diretor de produção, é um ótimo diretor de cena, esta que é a verdade. Da mesma forma, todo mundo atuou em algum momento como diretor de produção, no entanto, sem devidamente serem produtores. Resumindo: fizemos um filme sem a 'espinha dorsal' do mesmo. Diante disso, no terceiro dia nos damos conta que já tínhamos gastado os 10 mil reais que reservamos para a produção de 12 dias de filmagem. No meio disso tudo,  Juan faz mais empréstimos, cheques são descontados e muitas noites sem durmir, não só pelas longas diárias, mas pela preocupação de repor todos estes gastos. 

Mas, a decisão foi fazer este filme, e não iríamos desistir, mesmo que tudo indicava que deveríamos parar as gravações. Em meio a estes problemas muitos foram os desajustes de produção e muita corajosa foi a equipe, que mesmo sem cachê foi até o final neste trabalho. E tinham, sim, todo direito de desistir. Porém, como desistir se estava ficando um trabalho tão lindo e com muitos diferenciais. Estavámos diante de um filme que parecia estar sendo feito com no mínimo 200 mil reais, mas o gravamos com 42 mil. Sem falar nos cheques que ainda vão ser descontados este mês, não posso deixar de ressaltar que nossa deficiência também é de um bom administrador de contas. Obviamente que falo nos números de apenas esta primeira parte de produção, estamos agora em fase de captação de recursos para edição e finalização. Entendemos, neste momento, que temos um produto potencialmente tão interessante que não podemos mais continuar arriscando, e agora sim, captação de recursos se tornou prioridade. E é tão importante captar no mínimo 100 mil reais, que às vezes se arrisca a própria dignidade. Menos mal, que todos por aqui têm preceitos muito claros de até onde se pode ir e o que se pode ou não fazer para conseguir estes recursos. Mas, que às vezes da vontade de ir contra muita coisa, ah, se dá. Captar recursos creio que seja o processo mais desgastante e angustiante nessa trajetória, quando temos que implorar pelo mínimo de atenção para alguém perceber que o trabalho que temos é o mais sincero e digno possível. 

No entanto, temos valorizado demais uma captação de recursos que está acima do valor empregado pelas grandes empresas, pelos editais, mas sim a captação de pessoas físicas que fazem questão de apostar em um projeto e doam, por exemplo, 2500 reais (falarei mais sobre isso, nas próximas postagens). Essa doação que não pensa no abatimento do imposto de renda, que apenas pensa que pode colaborar com o fazer verdadeiro da sétima arte. É nesses momentos que nos comovemos e seguimos adiante, por que é nesses momentos que nos damos conta que precisamos fazer um filme com verdade acima de qualquer coisa!

Isto é tema para uma conversa ainda mais longa!!! E vamos voltando por aqui também!!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Uma visita bem docinha no final da tarde!!!

Oh, vida boa! Hoje foi ele que nos serviu um café bem quentinho e ainda trouxe chocolates de presente., bem docinhos. Oh, coisa boa esta visita. Chegou no final da tarde com um abraço tão familiar. Sua barba aparentemente não mudou nada, mas Roberto Birindelli quanta diferença, desde a primeira vez que o vi pessoalmente está muito, mais muito mais radiante. Para não perder o hábito senta no computador e depois de abrir o facebook, juntamente com o diretor Juan fazem conjuntamente um 'teste de elenco'. Opa, teste de elenco? Mas SIMONE, já não acabou? Ah, entendi, os próximos filmes. Garanto que atrizes bonitas e interessantes não faltarão. Não mesmo, te falo em repertório bem diversificado que Birindelli tem em seu facebook. 

Acho que foi um dia pesado para todos. Muitas mudanças e inseguranças pela ZApata Filmes e na vida de cada um de nós. Sobrevivemos ao SIMONE, de uma maneira surpreendente, agora é hora de sobreviver as contas do próximo mês e não são poucas e ir em busca de outros trabalhos. Desafio demarcado ontem depois de uma reunião séria em que Juan resolveu chamar todo mundo e colocar metas. Mas, oras nosso diretor racionalizando! Que bom!

Roberto Birindelli deu seu ar da graça muito breve, sempre com boa energia, piadas na ponta da língua e com a agenda lotada. Daqui uns dias estará na novela Insensato coração, eu agora sei o papel mas não vou contar, tentem o identificar: com ou sem barba? Chegou, passou e nos deixou com mais saudade de SIMONE. Ainda bem  que não acabou!!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Com sol, com chuva...com qualquer temperatura...é SIMONE...

Nem Charlie Chaplin se sentiria tão feliz com aquela chuva. Todos nós estávamos felizes como crianças, afinal não seria os bombeiros, nem qualquer possibilidade de orçamento que faria uma chuva artificial superar a intensidade da que caiu em Porto Alegre na noite de segunda-feira. No final da tarde ainda restavam dúvidas se os céus iam colaborar com nossa história. Precisávamos de chuva, de muita chuva. E não cabia a produção nem tentar ligar para São Pedro solicitando uma forcinha, era questão de ‘sorte’ mesmo. Juan antes de sair da produtora afirma que este é o momento de pôr a prova a sorte que estamos tendo com o filme SIMONE. Afinal, teria tudo para dar errado, no entanto, sobrevivemos. E não só sobrevivemos como tivemos condições de beber uma cerveja depois das gravações. 

Antes de chegarmos na casa de Simone Telecchi e depois de passar na APEMA para carregar os equipamentos, encontramos no caminho com ela, estávamos felizes com nossa sorte e com a beleza da água contra a luz das ruas. Momento para boas fotografias em meio ao trânsito congestionado. Mas só foi adentrarmos na casa de Simone que a chuva se dissipou, no entanto, nada que nos deixasse menos feliz por estarmos nos encontrando novamente. Por isso, entre uma cerveja e outra aguardamos mais momentos de sorte para conseguirmos aquela cena. E tinha que ser chuva de verdade, não seria uma mangueira de água capaz de satisfazer nossa ansiedade. Resolvemos pedir pizza para jantar e estipulamos uma hora e meia de espera. Caso não chovesse, desistiríamos da cena nesta noite. Foi o tempo da pizza chegar, cada um pegar um pedaço e desandou uma chuva linda de morrer. Sem capa, sem guarda-chuva, afinal quem está na chuva literalmente está para se molhar saímos com Simone pelas ruas de Porto Alegre. Que noite aquela para Simone, que noite esta para nós. 

Juan Zapata pulou entre algumas poças d’água e entre suas clássicas expressões ouvimos mais uma dezena de vezes: “cara, velho, ta do caralho”, ou então, a mais clássica de todas: ‘que lindo eso’. No fim todos molhados, felizes e tomamos mais uma saideira por favor. Ah, não podemos esquecer da presença do Rodrigo, que colaborou com SIMONE com sua steadicam. SIMONE continua por aqui e muita história ainda vai rolar!!!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Na última diária...já saudades!!!

Tarde de outono. Céu azul, sem qualquer traço de nuvem durante o dia. Elas olharam para o céu, para a sombra das árvores, andaram pelo início da relação, o meio e um possível fim, assim passaram por muitas estações do ano. Longe da ficção, cada set é uma nova história, a aproximação sensível com diferentes pessoas, com seu trabalho e suas trajetórias. Alguns se identificam com o filme que estão fazendo, outros apenas fazem mais um trabalho. Algumas pessoas nos unem, outras nos separam, mas o mais importante é acreditar no que se está fazendo.

O filme SIMONE foi feito por pessoas que acreditavam em um projeto e na relação de respeito e admiração que tem pelo diretor Juan Zapata. Juan, por mais que pense ao contrário, é muito jovem ainda, um sonhador e idealista que com paixão faz com que as pessoas se envolvam nos seus sonhos. Sonhos que são pura sensibilidade, mas também com uma boa dose de racionalidade. Medida e limite entre ambos que provavelmente ele não possa entender e nem queira saber as proporções. Juan Zapata é uma pessoa envolvente e interessante a ponto de fazer com que as pessoas ao seu redor acreditem, aceitem e sejam muito generosas na sua busca de realizar tais sonhos. Foi assim que o filme SIMONE aconteceu, com profissionais que mesmo estando repletos dos pesos do mercado de trabalho, da necessidade de por na mesa o pão de todo dia, estiveram juntos por uma história, por acreditar que era possível fazer cinema por amor.

Profissionais que doaram seu cachê, que se dispuseram a criar junto a um coletivo, que estiveram abertos a conhecer o outro. Jovens que nunca estiveram em um set e que mesmo com muitas dificudades conseguiram administrar coisas de gente grande e muito experientes. Um set que teve suas conturbações: falta de grana, de um diretor de produção, uma única van, pessoas que perdiam o horário da van, a poupança do Juan e a conta da Zapata filmes diminuindo dia após dia. Apoios que cairam no meio do caminho, figurantes que não apareceram, diárias que estouraram o tempo, a falta de uma ligação para avisar o horário do transporte, as locações que não foram produzidas devidamente. Enfim, lendo tudo isso, parece que o filme foi um desastre, seria o set perfeito para os desentendimentos, brigas e muita insatisfação. No entanto, tínhamos dois grandes trunfos no meio dessa loucura toda: um boa e envolvente história e a sensibilidade e humildade de Juan Zapata.

O motorista da van, Xarão, admitiu em seu depoimento que nunca tinha trabalhado com um diretor que fosse tão agregador e que não diferenciasse a ninguém. Estávamos na sua casa e em casa, literalmente, por que Juan tem esse dom de agregar e de fazer com que todos se envolvam com comprometimento e vontade de criar, e para isso, ele sabe ser generoso como ninguém, dando espaço para a arte fazer e desfazer sua concepções. Para a fotografia desfazer suas ideias iniciais de proposta de conceito; para os atores interferirem no roteiro; para cada pessoa que estivesse ali pudesse colocar seu olhar e sua emoção na história. E o roteiro mudou, tanto que todos já queriam um final diferente, por que os atores surpreenderam, como a desconberta da pequena Natalia Mikeliunas, que chegou, abriu câmera e fez com que todos se encantassem.

Foi pesado sim, cansativo, sono atrasado, mas foi acima de tudo prazeroso este encontro com cada uma das pessoas que passaram por este set. Por isso, no próximo post vou lhes mostrando aos poucos quem foram essas pessoas e o que as fazia ser especialmente interessantes. Terminamos de gravar ontem, eu estou em estado de exaustão como a maioria das pessoas, confesso que não sinto mais meu corpo e não aguento mais baixar cartão. No entanto, a magia em torno desse filme e dessa história, me traz forças para ainda conseguir escrever, hoje com um olhar ainda mais pessoal sobre o todo, com a emoção e motivação de alguém que acredita, compartilha e se identifica com tudo que viveu e ainda vai viver. Pois, SIMONE, ainda não acabou por mais que Birindelli corte sua barba, Mikeliunas volte ao Rio de Janeiro, Simone volte a ter seus cabelos curtos novamente. Jo e Val de mãos dadas retornem ao seu mundo discreto; Farha e Paola ao seu mundo da universidade; Chachá as batidas das suas novas músicas; Pablo e Daniel se voltem a novos focos e enquadramentos; Bernardo, Pâmela e Binho partam em busca de outras referências, como por exemplo, uma casinha de pássaro nos fundos de um bar; Miguel volte ao seu mundo introspectivo; Rafael e Camis se debrucem a tantos novos figurinos; Juan Zapata, por fim continuem sonhando e acreditando nos seus novos filmes e eu recomece longe, perto, mas sempre recomeçando!

Enfim, SIMONE, continua... há cenas para serem gravadas, um novo roteiro e quem sabe um novo final de filme que se idealize na edição. Ainda tenho que contrar sobre as pessoas que passarm por aqui, temos que captar recursos, pensar em novas histórias para o cinema em rede. E vocês vão acompanhar tudo por aqui...


Obrigado à todos que estão fazendo parte de SIMONE. Obrigada Juan Zapata por sonhar e dividir seus sonhos com todos nós!!!

domingo, 12 de junho de 2011

Que tal pensarmos no próximo filme???

Acabamos neste momento nossa nona diária. Estouramos mais 4 horas. Mas era o último dia na locação da casa de Cris. Cenas decisivas para o desenlace dessa história. Acabamos também com o jantar do dia dos namorados da maioria da equipe,  mas todos estavam convencidos de que valia a pena. Simone Telecchi e Natalia Mikeliunas cruzam seus olhares, seus braços e abraços, no começo, no meio e no fim de uma relação.  Duas surpreendentes surpresas estas jovens atrizes que nos emocionaram diante das câmeras.

Juan Zapata no meio da diária senta no computador e escreve no facebook que já está sentindo saudade deste set, por já ter a sensação de estar em família. E de fato nos apegamos um ao outro, a ponto de começar a aceitar as diferenças e dar ainda mais importância as qualidades de cada um. Afinal, como afirma nosso fotógrafo Pablo: estamos todos no mesmo job, não? E como estamos!!

Ainda bem que temos a Val por aqui, que mesmo tendo que maquiar as atrizes  ainda arranja um tempinho para cuidar da maquiagem e cabelo de toda equipe no dia dos namorados. E para quem não tem namorado ao menos é bom estar com a pele bem cuidada em outros sentidos! O diretor optou por um diferencial no cabelo, já que no fim das contas este processo todo é maravilhoso, divertido, mas tem lá suas devidas cargas de preocupações e apreensões, a ponto de deixar qualquer pessoa com o cabelo bem mais branco. 



Amanhã tem mais, só faltam mais dois dias...e de verdade, já estamos com saudade!! Que tal pensarmos no próximo filme do cinema em rede!

sábado, 11 de junho de 2011

Os primeiros olhares de Cris!!!

Nas suas primeiras falas um leve sotaque carioca mais presente que o sotaque uruguaio. Nos seus primeiros olhares o convencimento do diretor de que a escolha tinha sido a mais acertada. Natalia Mikeliunas, uma menina pequena provinda das terras do Uruguai, com um olhar é capaz de expressar todo a profundidade de um personagem e de si mesmo. Ontem foi seu dia. O primeiro dia de Natalia diante das câmeras. Aliás, o segundo, por que no seu primeiro dia em Porto Alegre já teve que cair nos braços de SIMONE. Mas, nessa equipe todo mundo se joga nos braços da vontade de inventar. 

E se a sala se tranformasse em um quarto/sala/cozinha? Coisas do sempre espirituoso e criativo diretor de arte Bernardo Zortea.  Estamos no apartamento de Simone e Cris, é aqui que os personagens vivem o dilema de uma relação de muitos anos. Juan ZApata está gripado e com expressões de quem está com sono, com muito sono atrasado, nem por isso menos feliz. Aliás, como ele mesmo diz que sua felicidade é do tamanho do seu sono. Bora durmir, então, diretor. Aliás, o cronograma mais uma vez foi revisto: diária noturna nunca mais!! Ao menos no nosso set nunca mais, um equívoco grande que acabou abalando toda a equipe. A primeira noite de virada é aceitável, a segunda é difícil, a terceira é divisor de águas. Menos mal que tivemos uma folga para 'desvirar' os dias, o cronograma e renovar forças! 

Juan Zapata ficou com a sensação de algumas lacunas na história de Pedro e Simone. Afinal, não conseguimos gravar todas as cenas, no entanto, nada que não possa ser justificado, pois o tempo que se demora para preparar e gravar uma cena, significa a qualidade e profundidade da mesma. Entre conceito, linguagem, proposta estética e narrativa, tudo vai se ajustando, se abandona algumas propostas e se constróe outras maneiras de olhar. Agora no olhar cruzado ou no desencontro dos olhares de Cris e Simone. Ontem, começamos a gravar a outra história dentro da mesma história, ao mesmo tempo nos despedimos de Roberto Birindelli que retorna ao Rio de Janeiro. Roberto se emociona e nós nos emocionamos com sua generosidade. Generosidade que contagia a todos! Até mesmo a mãe de Natalia nos manda boas vibrações diretamente de Montevideo. 


Coisa boa toda essa energia, coisa boa este sábado de sol em Porto Alegre e logo cedo nos encontramos!
E nos encontramos em torno de um objeto cênico que fez a festa da galera e que despertará a revolta de Simone. Curiosos? Em breve em cinemas!!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Característica essencial da equipe do filme SIMONE, certamente é versatilidade e fácil adaptação. Não tem como ser diferente, há quem já faz maquiagem, making of e still. Há quem dirige, faz direção de produção e produção executiva. Há quem faz produção de set, de base, de alimentação e abastece a van. Há quem faça arte, café, quadro de nuvens. Há quem faz assistente de direção, câmera e a parte do roteiro mais fofa. E também quem faça parte do elenco. Miguel Baierle tem sido um dos melhores figurantes, sempre disposto a qualquer cena. Gandolfi quer passar longe das câmeras, somente por detrás dela  e por parte dos ares de Moçambique (me desculpem mas não posso deixar de dar leves pitadas de piadas internas). Paola, já atuou em três momentos diferentes. A equipe do figurino também já tiveram sua pontinha diante das câmeras. Até eu tive que abrilhantar as telas com um 'olhar', mas confesso que as motivações que levaram ao papel me encabula um pouco, só um pouco...de resto sou muito versátil, somos todos muito versáteis e bem dispostos. E se faz tudo por SIMONE, inclusive encontrar motivação para uma diária de 15 horas. Eram seis horas da manhã, não tínhamos mais condições de rodar, começamos as 3 da tarde. Hora de parar e tentar durmir, hoje é dia de folga. Mas quem mesmo está de folga? Pelo menos subimos ao morro Santa Teresa para que Natalia pudesse conhecer a vista linda do Guaíba lá de cima. Que bons ares estes para dar um ânimo a mais para os dias que seguem pela frente.

No set sempre muita lareira, chocolate e claquete!



Ontem sim poderia ser a diária mais longa da cidade, no entanto, era o último dia com Roberto Birindeli no set. A partir de amanhã estaremos nos braços e entre os olhares da menina Natalia Mikeliunas. Segundo ela, na noite passada enquanto durmia falei em voz alta: alguém ta precisando de alguma coisa? E esse é mais ou menos o espírito do filme, todo  mundo ajuda todo mundo e assim SIMONE vai nascendo dos nossos braços, abraços e às vezes algumas 'rusgas', fala-se um pouco de um, um pouco de outro. Mas, nada que fuja da concepção de um trabalho em grupo e coletivo. Afinal, coletivamente não significa que todos tenham que ter o mesmo ritmo e a mesma opinião, coletividade acima de tudo significa respeitar as opiniões e necessidades divergentes de cada um. E o filme SIMONE trata exatamente disso, da importância em se respeitar as nossas próprias vontades!! Qual a sua mesmo? Agarrar uma loira ou um loiro? Ele venceu a batalha.

Mas gostaria de continuar este texto lembrando da introspecção de Natalia. Hoje ao meio-dia coberta pela luz do sol entre as árvores no caminho do restaurante ela pede desculpas pela seus momentos de introspecção, quem sabe também momentos de solidão...E ela se sentiu sozinha na locação que será seu apartamento, sentiu vontade de voltar para a casa da mãe, ainda mais depois de receber uma mensagem do namorado que ficou no Rio de Janeiro, dando-lhe apoio. Uma menina corajosa. Indícios perfeito para o personagem que ela vivenciará a partir de amanhã: Cris. Juan Zapata no almoço confessa que não poderia ter sido escolha melhor! E não poderia mesmo, em Porto Alegre ela está se sentindo em casa...sentindo o cheiro de Montevideo!! Mas lhes conto mais dessa pequena a partir de amanhã!!

Muita lareira, claquete, chocolate, paisagem e visceralidade todos os dias!!! Até amanhã!!! Hoje a noite cama para todo mundo!!!Já amanhã a noite que tal um vinho para nos despedirmos de Roberto!!

terça-feira, 7 de junho de 2011

E as nuvens?

Sabia que Juan Zapata estava ansioso. Era o dia de ver nuvens...aquelas que andam mais rápido pelos céus de Porto Alegre. Mas como traduzir nuvens fugindo da óbvia apreciação do céu? Afinal, ao olharmos para as nuvens temos a liberdade de criar e projetar tantas imagens. Quem nunca olhou para as nuvens procurando algum significado nos seus entornos? Mas nuvens são apenas nuvens, se movimentam conforme os ventos, se deslocam conforme nosso olhar. E em alguns dias nem as vemos, elas se dissipam num céu azul e brando. Ontem, no entanto, foi dia de nuvens lá fora, com o início da chuva e dia de nuvens aqui dentro. Nuvens em um quadro branco, com alto relevo, e nuvens nebulosas no olhar conceitual de cada um.

Para alguns aquelas nuvens propostas pela equipe de arte representava apenas um quadro branco na parede, para outros era possível visualizar montanhas. Outros não se arriscavam a dar sua opinião, mas sabiam que seria uma discussão longa. Mas Bernardo Zortea com sua devida praticidade ressalta que é importante dizer sim ou não. Juan sofre calado pensa como resolver esta situação, afinal, não queria dizer não ao quadro branco de nuvens, tinha gostado da concepção e do relevo, mas lhe faltava algo. Algo que não sabia explicar o que era. Talvez lhe faltava algo aproximado do óbvio. E qual o problema da obviedade? E qual seria o problema também em fugir dela? E assim entre uma cena e outro, fomos noite a dentro pensando, mirando e no fim a decisão chegou: hoje a arte nos apresenta um novo quadro em que impera o óbvio que não talvez não incomodaria 'ninguém'.

Mas entre nuvens há também possíveis tempestades, que felizmente se dissiparam ao final da tarde. Coisas de produção. Foi por pouco que conseguimos filmar na locação do início da diária, por conta da boa vontade de um amigo Maradona. A ruiva esteve entre nós - Ohana Homem -pelas mãos da nossa maquiadora Val Oliveira ficou ainda mais linda. Noite de uma das cenas mais importantes do filme, para não dizer a mais importante. Entre lábios vermelhos e um beijo profundo fomos noite a dentro, com lareira, pipoca, pizza na sala do Juan...não foi festa não, eram apenas elementos de mais uma locação.

(não deveria contar, mas tenho que admitir que entre as maiores 'gafes'  do set foi a minha que coloquei dois Xis esquentar no microondas, em torno deles um alumínio....bom...por pouco não botei fogo na casa da protagonista. Volta e meia ouço alguma piada sem graça em torno do assunto, mal sabem eles que nas terras que me criei microondas só em casa de rei, rsrsrs)

Hoje, foi dia de acordar tarde!! E com aquela chuva lá fora, poucos devem ter olhado para as nuvens. Mais um dia de mudanças no cronograma, permanecemos fechados no aconchego da casa e da intimidade de Pedro. E depois de um longo dia consigo me sentar para escrever-lhes e contar um pouco do que acontece por aqui. Na parede temos outro quadro de nuvens, este bem mais óbvio. Mas, o grande dilema do momento é a caça as chaves de Juan Zapata. Quem está com as chaves do diretor?? 

E já ia me esquecendo...como poderia me esquecer, seria mais uma gafe daquelas. No final da tarde chuvosa em Porto Alegre nos deslocamos ao aeroporto Salgado Filho. Erramos o local do desembarque...estávamos ansiosos. Preparamos uma placa com o nome Cris, uma claquete, camisetas de SIMONE. No fim das contas com o atraso e as voltas ao redor do aeroporto, quando chegamos Natalia Mikeliunas já estava mais ambientada do que imaginávamos, ao lado do fotógrafo e amigo Edu Monteiro já se sentia por casa. No carro confessa que estar aqui parece um sonho e assume sua loucura em se largar do Rio de Janeiro para fazer um filme em que não conhece pessoalmente nenhuma das pessoas envolvidas. E nem bem chegou já teve que se atirar nos 'braços' de Simone.



Ficamos por aqui, hoje fechamos depois das cinco da manhã...Amanhã retornamos somente depois do meio-dia!!! 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tons de vermelho para aquecer o corpo e alma nessa terceira diária...

Um quarto em tons de vermelho. O lugar ideal para o começo de uma nova paixão, ou para o recomeço de tantas coisas. O abajur não agrada todo mundo, trocamos de abajur. Um frio lá fora, ali dentro no quarto de Pedro uma coberta pesada e uma cama quente. Começamos a nos aconchegar na intimidade dos personagens Simone e Pedro. Momento de sair das ruas de Porto Alegre e contruir esse espaço de vivências e convivências de cada um dos personagens centrais do filme SIMONE. Eles são três, nós somos muitos. E por sermos muitos é difícil controlar todas as necessidades de um set. 

Trabalho de produção dobrado. Todo mundo é um pouco polivalente diante das condições...de making of a 'making tudo', confundindo até mesmo o papel  de cada um no meio dessa 'deliciosa' confusão. Mas tenho que admitir a fotografia continua linda. A Val chegou de viagem na hora do almoço...cabelo e maquiagem com um novo toque sutil de sua experiência, ela traz notícias de Natalia Mikeliunas que chega na quarta-feira. Estamos ansiosos. Ohana Homem também passou pelo set... hoje é seu dia. O dia da nossa tão esperada ruiva e da cena que abrirá o filme. Momento importante, cena forte....(nos aguardem). A arte continua fazendo 'arte' pela casa de Juan Zapata. Binho Lemes chegou cedo hoje, origamis foram colocados pela casa. Quadros na parede, estante fora dos seus lugares tradicionais. 


Café é essencial e nunca pensei que a falta de uma cafeteira seria tão grande problema. Daniel, assistente de câmera, às vezes, um pouco ansioso pede-me um café com urgência para o diretor de foto Pablo. Ah, Pablito, calma, calma...lhe mandei dois cafés de uma vez com pouco açúcar. No fim das contas tive que provar do gosto de uma pimenta - da coleção de pimentas do Juan - uma picante que foi deixada sobre uma banana na parte de alimentação. Foi sem querer, mas acabou com meu paladar por algumas horas!!!

As meninas que provam da primeira vez da correria de um set, não conseguem esconder seu cansaço: Farha quase dorme no sofá, depois das 10 da noite seus olhos ficam pequenos, naquele rosto moçambicano mais que bonito. E nosso diretor? Passa o cartão de crédito, sente as vibrações dos possíveis problemas, mas está ali detrás da câmera, tocando seus atores e fazendo com que tudo, apesar de tudo, continue lindo!!!



E mais uma vez como já disse ontem, como tenho o privilégio de ser a primeira pessoa a ver as imagens depois da diária, ontem emocionei-me com as coisas que vi...a fumaça no espelho do banheiro se desfez aos poucos, um movimento tão poético e repleto de sentidos, que fizeram com que o meu dia que foi bem pesado bem por detrás das câmeras, ficava leve e com a sensação de dever cumprido...Estamos indo muito bem!! Mas hoje é apenas a quarta diária....

E aquela torta de limão no final da manhã: azedo,  mas .....

sábado, 4 de junho de 2011

Uma manhã fria na redenção...Um dia lindo em Porto Alegre!!!

E aquele vento gelado que se espalha pelos ares da Redenção, só poderia ser amenizado pelo sol vigoroso que fez com que nossa diária fosse 'iluminada' demais. Dia especial para uma boa fotografia, para aqueles planos de tirar o fôlego e de deixar o diretor feliz. Começamos cedo, apesar de que boa parte da equipe chegar atrasada fazendo com o que o diretor ficasse bem chateado logo no início da manhã. Dia de manta, luva e boina.  
Dia de mais uma vez a cena do restaurante cair. Dia um pouco mais pesado. Dia que Simone Telecchi amadurece bem mais seu personagem. Dia que Roberto Birindelli sofre bastante com o frio da Redenção. Mas os reflexos na água, o azul do céu, o vento que levantava as folhas do chão encheram de poesia aquela fotografia. Dia também de devolver fotografias.

Mas temos que admitir como faz falta um diretor de produção. As meninas: Farha e Paola nunca imaginaram correr tanto na vida, imagino como devem estar se sentindo com a experiência do primeiro set. Foi dia também, de família feliz. Figurantes que conhecem a história mais do que ninguém. Foi bonito de ver. Aliás, como tenho o privilégio de estar baixando todo o material conto para vocês. Hoje foi lindo demais!!!

Hora de ir descansar. Amanhã adiantamos a diária para as 11hs, conseguimos por fim produzir o restanurante. A cena derrubada há dois dias. Coisas que fazem parte de qualquer produção!! Depois é hora de se trancar na casa de Pedro e se envolver com mais intimidade nessa história!!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Simone abre os olhos novamente....agora para nossas câmeras, olhares e perversidades!!!

O dia começou cedo, aliás acho que o dia de ontem nem terminou ainda. Juan Zapata me liga antes das seis e meia da manhã, estava eufórico, não tenho dúvida de que neste momento ainda não acredita de que hoje ele começa a filmar SIMONE, um projeto que há mais de seis anos faz parte de sua vida, de suas vontades e necessidades. Ontem em algum dos seus momentos de divagação, ele disse: isso é loucura, estou arriscando tudo por este filme. Sim, sabemos o quanto isso é uma loucura e os riscos pelas quais assumimos todos nós este projeto juntos. 

Ligo para Simone, ela está quase chorando ao telefone por demorar para conseguir  estacionar seu carro no centro de Porto Alegre. Tudo bem, não estávamos atrasados e nossa primeira locação - as dependências da Fundacine no centro de Porto Alegre -, convenhamos não tem o melhor acesso de carro. Porém, das janelas da locação escolhida para ser o trabalho de Pedro e Simone, uma vista mais que interessante para a cidade. E a arte agradece por tudo já estar ali, prontinho. No entanto, há que se ver figurino, make up, objetos e tantas cositas mais:

Câmera nas mãos, nos ombros, câmera que segue os personagens, câmera que  observa de longe, que toca de perto. Câmera que segue câmera e é tanta câmera no set. E entre um intervalo e outro comentávamos justamente sobre o quanto é fácil hoje em dia estar no set com duas 5D, uma 7D e uma D60. Luxo...se isso é bom para o mercado ou não, deixamos para uma conversa em mesa de bar. Aqui é hora de gravar. A produção de base que percorre as ruas de Porto Alegre me liga: derrubamos a cena do restaurante, precisamos de um restaurante para amanhã, precisamos também de um posto de gasolina, de um teatro, de alimentação. Ok, ok, tudo sobre controle ainda, afinal recém a primeira diária e a empolgação é maior que qualquer problema de produção. 

E Simone? Juan sabia que ia ter um pouco de dificuldades com Simone Telecchi. Simone sabia que ia dar um pouco de trabalho a Juan Zapata. O primeiro dia de tanto tempo longe do palco e de uma câmera e muito tempo numa repartição pública, não é fácil se desgarrar dos nossos modelos e se entregar ao um outro mundo de 'Simone'. Mas, Simone é sagaz e acima de tudo uma atriz muito generosa. Sabe ouvir um diretor como ninguém, e tem humildade suficiente para melhorar dia a dia. E ela está linda, um pouco ansiosa, com borboletas revirando no estômago, mas é uma atriz fácil demais de lidar, traz suas laranjas dentro da bolsa, um vidro de mel natural, a faca para descascar a laranja e se não fosse por insistência da produção, ela mesmo descascaria a laranja. 

E Pedro? Aliás, e Roberto Birindelli? Chegou ontem e sua barba continua comprida, apesar de ter sido aparada, no entanto, não seria a barba densa daquele homem que o afastaria do personagem tenro que és Pedro. Birindelli vai longe no seu olhar visto pela câmera do lado de fora da janela. Está com dificuldades na respiração devido a uma pneumonia, mas não está nem um pouco distante das facilidades que tem em atuar. Afinal, 20 anos de estrada, não é pouca coisa!! Sirvo mais um chá?

Em meio a essa loucura toda, temos que pensar em outros atores que ainda  estão pendentes. Menos mal que nossa ruiva -mais que linda -já está garantida. Ohana Homem te aguardamos no set. Natália Mikeliunas que chegue logo para te recebermos aqui de coração e alma. Mas, precisávamos encontrar um loiro, daqueles que tiram o fôlego de qualquer mulher. Ele chegou no  meio da tarde, um pouco sem jeito, mas de coração aberto. Quando adentrou na sala já senti um certo frenezi (ta bom, vou tentar me isentar de opinão pessoal sobre isso), todos de longe avaliaram. Sim, ele era bemmm interessante!! Aprovado! Temos um loiro...

E assim entre um dia de muitas câmeras, muitas cenas, algumas dificuldade, nos encontramos todos juntos pela primeira vez no set, cientes de que essa história vale a pena e de que as diárias realmente serão bem longas!! Por isso, agradecemos à toda equipe pelo carinho, a equipe da Fundacine pela generosidade e espontaneidade!! À Simone e Roberto que mais dias de intensas trocas sejam possíveis neste set...





ENTÃO, SIMONE ABRE OS OLHOS DE VERDADE!!!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

de lado a fotografia...bons momentos de euforia!!!

Chegou um momento do dia que já não conseguíamos mais raciocinar direito. A lista de telefones e rabiscos nos papéis espalhados pela mesa só aumentavam. Nem chocolate, nem frutas, nem os doces em forma de coração de diversos potes que estão na sala foram suficientes para voltar a completa atenção. Informações de todos os lados. Fotografia e elétrica solicitam a lista de luz. Equipe de arte na rua, Bernardo trabalha na produtora...Equipe de produção pela sala, na rua, divagando e vagando por todos os lados. Edson Gandolfi em algumas vezes atende o telefone, em outras somente na voz do diretor. 

Mudanças nas locações resultam em mudanças no cronograma. Mudanças no cronograma resultam em mudanças no número e na quantidade de figurantes. Diferente figuração resulta em mais ou menos alimentação. Mais alimentação resulta em mais apoios que tem que ser buscados. Mais apoio significa felicidade na equipe, menos apoio significa mais brechas na poupança de Juan Zapata. O diretor assina cheque, fala com a mãe, visita locação, pensa nos atores, resolve problemas da produção e por fim foge para casa para dar atenção ao filho Miguel que ontem completou seu primeiro aninho e para ainda finalizar o roteiro. É provável que nesta longa noite de frio Juan pense em criar alguma nova cena. Gandolfi não ficaria feliz por certo. 

Na produtora, passa da meia-noite acabamos de comer uma pizza, tomamos a segunda garrafa de vinho, mas temos mais cinco páginas do cronograma para produzir. Mas, não se assustem está tudo sob controle. Afinal, falta mais um dia. E amanhã será um novo e lindo dia de loucura, entusiasmo, euforia e aquele frio na barriga. Em meio a toda essa loucura, Juan Zapata pergunta-me como se diz mesmo aquela expressão da sensação de quando se está apaixonado? Hummm...ok, entendamos, ele estava com 'borboletas no estômago' e quem não está?

Mas o mais bacana do dia certamente foi a euforia de Paola e Farha que ao chegar na produtora com uma garrafa de vinho embaixo do braço e uma caixa de chocolates, contaram com alegria sua grande aventura por um mercadão de atacado. E nesses momentos que se percebe que não há cansaço que abata esses momentos de entusiasmo quando se acredita em um projeto!! E Isso é cinema em rede!!

Hoje sem foto, por que no fim das contas deixei de lado minha máquina para teclar muito em tantos e-mails e tantas ligações!!!

terça-feira, 31 de maio de 2011

A 'arte' de fazer 'arte'...

Os seus olhos brilhavam e não se tratava do efeito do vinho e da cerveja que rodava de copo em copo, quanto menos era apenas o reflexo da lareira que esquentava uma das primeiras noites frias deste quase inverno em Porto Alegre. Estávamos no apartamento do diretor de arte Bernardo Zortea. A equipe de arte do filme SIMONE apresenta sua concepção ao diretor Juan Zapata e ao diretor de fotografia Pablo Chasseraux, depois de dias envoltos em muitos mistérios. 

Já na primeira imagem de apresentação nossos olhos brilharam, tanto pela luz que vinha da fotografia mostrada, mas também por nos darmos conta da sintonia das pessoas envolvidas naquele olhar sobre o roteiro SIMONE. Aos poucos os 'mundos' de cada um dos personagens vão sendo construídos por meio de cores, referências e significações diversas. Um misto de quente e frio e variações de intensidades entre eles. Afinal, em SIMONE encontramos três personagens principais tão particularmente diferentes e imersos em distintos 'mundos', mas com uma grande verdade no olhar: a necessidade de ir em busca da felicidade independente das escolhas que se faz. Independente, até mesmo, da energia das cores em que se vibra.

Juan escolheu beber vinho tinto e falou pouco durante a apresentação, impedido por Bernardo que o estimulou a apenas contemplar depois, por fim, suspirar. O diretor, não teve dúvida   de assumir que queria se mudar para a equipe de arte, afinal é nela que se constrói a possibilidade de 'viajar' em tantos mundos...os que fogem da vida real e adentram no da ficção. 

Saimos dali satisfeitos, porém cientes de que muitos segredos ainda serão desvendados pelo caminho, pelos cenários, pela 'arte' de se fazer cinema em rede. 

Faltam apenas 3 dias!!! E aquele 'frio na barriga' nem mesmo a lareira e o aconchegante apartamento de Bernardo é capaz de esquentar. 

domingo, 29 de maio de 2011

SIMONE, volta a abrir os olhos...repentinamente!!

Descobrimos hoje que Simone gosta do cabinho verde da rúcula, segundo ela é ali que se concentra todas as vitaminas da verdura, ela toma ainda vitamina de algas para a imunidade. Descobrimos hoje, também, que Simone usava um colar com o símbolo da força, segundo ela tinha que ter força para aguentar "Cris". Referências que fizeram os olhos da equipe da arte brilhar. Aliás, a equipe da arte anda com muitos mistérios por aqui...apresentam uma proposta na terça para Juan.

Depois da pizza de tomate seco com rúcula foi a vez da Val fazer teste de maquiagem em Simone. Ela está ansiosa, pois não estará nos dois primeiros dias de gravação, embarca amanhã para o Fashion Rio. Nestes dias é Pâmela que assume a maquiagem. Enquanto isso, Binho sugere algumas coisas para o roteiro. Em meio a tudo isso e a todos Juan Zapata está mais leve, parece que a tempestade maior passou, agora é momento de desfrutar  do 'frio na barriga' que antecedem os cinco dias de gravação do filme SIMONE.



Em alguns momentos os olhares de Juan e Simone vão longe, estou certa de que eles não estou acreditando que depois de cinco anos vão conseguir contar esta história! Simone abre os olhos novamente, agora mais que repentinamente!!!

Começamos dia 03...agora sim falta muito pouco!!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nosso presente: uma história!!

Poderia ter presente mais significativo que um filme? Ter sua história de vida - ou ao menos suas referências - contada por meio da 'arte' da 'sétima arte'. Creio que não! A atriz Simone Telecchi hoje está de aniversário. Completa seus 37 aninhos. Já se passaram 7 anos desde o ínicio dessa história, aliás, a transição que demarcou a passagem de uma nova história. Suspeito que este aniversário esteja sendo o mais confuso e por que não intenso de sua vida. Afinal, Simone encontra-se a menos de uma semana de estar em frente as câmeras para interpretar parte de sua história. Uma atitude corajosa, mas também uma atitude repleta de responsabilidades, daquelas que pesam nos 37 anos.

Nesses últimos dias tenho visto Simone muito pouco, nos dias que a tenho visto está carregada de apreensões, obviamente que não o suficiente para tirar sua leveza. Apreensiva, por tantas coisas que está a aprender em meio a esta história. Aprende ao trabalhar com o outro: seja no seu trabalho formal, seja no seu trabalho de atriz. Aprende todo dia a ser um pouco mais mãe, um pouco mais esposa. Aprende todos os dias a assumir a responsabilidade das escolhas: seu peso, sua leveza! Aprende a sentir suas necessidades e a se dar conta do quanto sua vida a partir destes 37 anos pode mudar.

Ontem à noite, sentados novamente em frente ao cronograma de gravação do filme SIMONE, Juan Zapata e eu conversamos sobre a 'responsabilidade' de contar uma história, que não é uma simples história, mas que mexe e se 'apossa' da história de uma personagem/pessoa real! Simone hoje completa 37 anos, e nós lhe damos de presente a história SIMONE. E neste filme as 'responsabilidades', especialmente com os sentimentos do outro tem sido muitas. Ah que se ter tato e sensibilidade para sobreviver neste mercado convencional do cinema, ah que se ter tato e sensibilidade para contar e se envolver em qualquer história!!!

Parabéns Simone Telecchi!! Que esse seja apenas mais capítulo da sua linda história de vida!!
E mais tarde, depois da reunião da equipe ...festa. não?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O final da história é sempre feliz, mas seus cabelos...quanta diferença...

Mocinhos e bandidos na tela. Um final feliz. Ás vezes um pouco dramático, mas no fim das contas de certa forma sempre é um final feliz, ou então um final aberto a divagação e interpretação do público. Mas o fato é que estamos acostumados a estar sempre na frente da tela, admirando um produto pronto: Produzido, editado, finalizado.

E assim ignoramos o processo, os bastidores, a não ser quem trabalha diretamente com cinema e em muitos casos até mesmo quem trabalha em uma equipe de um filme ignora muitas coisas que acontecem literalmente por detrás das câmeras. Aliás, onde estão as câmeras mesmo? Danieli Sallaberry que faz parte da equipe de produção do SIMONE confessou ontem que antes de estudar jornalismo nunca imaginou que um filme não era gravado conforme o roteiro que aparece nas telas. E quantos de nós pensamos a mesma coisa, não? Pelo menos até entrar em um set de filmagem.

Lembro-me da minha primeira vez em um set, há alguns anos, confesso que foi bem difícil entender o que estava sendo filmando. Uma história com cenas gravadas de forma desfragmentada. Também, no mínimo curioso era a parafernália de equipamentos da elétrica, que envolvia a construção de um conceito de luz para cada cena. Assim, a magia da tela diminiu um pouco quando se vê tudo que acontece por detrás das câmeras. Os mocinhos e bandidos antes da maquiagem deixam transparecer suas imperfeições, aliás, muito natural, são pessoas reais e palpáveis como todos nós. Suas personalidades como bons mocinhos ou como maus bandidos também se revelam nos bastidores.

E é nos bastidores que se revelam muitas nuances, especialmente as dificuldades: uma equipe desajustada, a câmera que falha no meio de uma cena, um ator que não pode mais filmar, diárias que são atrasadas, um cronograma que se estende pelos dias, um roteiro que não é devidamente organizado, uma produção às vezes mal executada. Mas, todo fazer esta passível de erros e é necessário também contá-los por aqui, ou apenas, dar uma parada e refletir, talvez recomeçar. Isso não significa que deva se ter descrédito no processo ou nas pessoas, quanto menos na história. Afinal, nada mais importante que a consistência da história.

E entre erros e acertos as entre linhas de produção de um filme se desvelam ao meu olhar neste momento. Hoje Juan Zapata com ares bem mais felizes do que os últimos dias gira sua cadeira e diz que conversando com um amigo argentino chega a conclusão que não há filme que em algum momento de produção não se sinta vontade de desistir, ou então se compartilhe da sensação de que tudo vai dar errado. E depende, essencialmente, da insistência e paixões do diretor para que a história possa ser contada. E então com SIMONE não poderia ser diferente, pois contamos com a paixão e a teimosia de um diretor que acredita no instintivo, nos sinais da vida, podendo pensar até mesmo em um 'sexto sentido'. Juan Zapata é assim, e creio que mais pessoas que estão com ele neste projeto são assim, e é por isso que mesmo quando tudo parece andar em câmera lenta, até mesmo com as câmeras desligadas é que se sente ainda mais os sinais da vida e as necessidades de fazer as coisas acontecerem.

Juan gira sua cadeira novamente, se volta para o computador, sinto que 'interna-mente' se sente feliz com suas possíveis decisões e com os riscos que anda assumindo. Se levanta e acaba de chegar aqui perto de nossa mesa e por fim fala: por que no estudiamos medicina? (em um portunhol, hoje mais entendível). E eu me calo mas lhe respondo por aqui: não fizeste medicina Juan por que a maneira que encontraste de tocar e ajudar as pessoas e quem sabe um dia de ganhar dinheiro (ou mera ilusão) foi por meio, entre, atrás e na frente das câmeras. E na possível 'magia' que é vista na telona pelos espectadores, que não fazem a mínima ideia dos longos dias aqui pela ZAPATA Filmes e dos sinais dados pela vida nas suas mais diversas manifestações...e por fim não é o novo corte de cabelo que tiraria sua força, não é mesmo?- porém deixamos Sansão para outro momento.



OBS: o novo corte de cabelo de Juan Zapata foi realizado pelo salão de beleza MIRAGE, nosso parceiro nesta história. Ficou bonito, porém cadê seus cachos?

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sábado, edredon, SIMONE e mais metáforas


A tarde fluiu com leveza no sábado. Mais uma tarde de ensaio. Um pote com pedaços de ovo de chocolate da páscoa corre de mãos em mãos. Desta vez bebemos chá e café com açúcar mascavo. Não poderia ser diferente na casa de Simone. Lá fora um dia com cara de chuva e um friozinho bem bom! Ali dentro Juan se aconchega debaixo de um edredon. No sofá da sala as frases poéticas ditas pelos dois personagens transcorrem pelas horas. E na possibilidade de uma lágrima encontrar outra paramos todos para rever as anotações de Birindelli. Sim, estávamos extasiados com algumas emoções. 

Simone entra embaixo do chuveiro...Pedro também entra no box e sem palavras apenas toca suavemente o corpo de Simone. Um movimento bonito e sem grandes encenações. Imaginamos apenas a sutileza do vapor da água a banhar os corpos, mas estamos ainda na sala da casa de Simone. E lemos o roteiro, que hoje está devidamente na ordem. O diretor Juan ZApata passou mais uma noite sem durmir e rabiscou metáforas em meio a história. Metáforas que para Birindelli não se justificam, eu no entanto conseguia entender muito bem, e creio que Simone também. 

São despertados sentimentos a cada nova leitura, e novas frases ditas tocam a sensibilidade de Juan, que digita, rabisca e se permite ir mais a fundo no roteiro. Que tarde propícia para tal introspecção, sem necessidade de grandes movimentos de atores, domínio do corpo e da respiração, apenas momento de se entregar a história que está nascendo: em todos nós. 


Mas os dias de quase inverno começam a pesar lá fora e muitas ainda são as apreensões. Talvez abrimos câmera alguns dias depois do previsto. Enquanto, nós lemos o roteiro e nos permitimos a emoção de cada palavra, a produção trabalha lá fora para viabilizar : Luz, câmera, ação. Afinal, SIMONE é mais que metáforas, é uma produção de cinema independente, com baixíssimo orçamento e para isso é preciso correr muitos riscos durante a semana toda, para talvez somente na tarde de sábado se entregar...literalmente a história e somente ela...que mais do que tudo tem que ser uma ótima história para valer a pena. 

Por fim depois que a luz do dia se foi...nos afugetamos ainda mais encima do sofá vermelho de Simone. É hora de receber 'Cris', aliás, é hora de receber a possível Cris, mas ainda é cedo para contar por aqui...

sábado, 14 de maio de 2011

Gandolfi....muito longa essa diária...


1.    1 - INTERNA – PRODUTORA – DIA
Barba, sotaques, bolo de cenoura e SIMONE...      

Produtora com três salas. Uma delas com um sofá e uma TV de Plasma. Uma mesa redonda com uma planta e alguns livros.
Depois de uma porta de vidro uma segunda sala, mais um sofá com um violão, e um cabide com casacos, mochilas e tripés.
Na última sala dos fundos, quatro jovens moças trabalham, cada uma em seus computadores. No fundo da sala um espelho gigante e muitos elementos que lembram a temática cinema.

            Nunca imaginei que a barba de um homem demorasse tanto tempo para crescer. Descobri hoje que são necessários dois meses para que um homem tenha uma barba típica do século XVI.

            Roberto Birindelli chegou no meio da tarde, com um olhar um tanto distante, sentou no computador e pôs sua vida em dia nos e-mails. Chegou muito discreto com o rosto em meio a uma barba grande e densa. Tomou um café ainda em silêncio, antes da chegada do diretor Juan Zapata. Um silêncio que se cala quando ele e Juan se encontram e então se fecham na sala ao lado. Felizmente tive a sorte de estar junto deles. Do português – portunhol,  passei a ouvir o espanhol dos dois, que começavam a sentir em casa e muito familiares. Juan Zapata, colombiano. Roberto Birindelli, uruguaio. Só faltou o sotaque português de Farha de Moçambique. A Zapata Filmes cada vez mais agregando sotaques e línguas e com eles tantas referências.

            Ator e diretor se sentam em torno da mesa. Birindelli com o roteiro SIMONE em mãos. Aos poucos expõe a Juan como reconhece Pedro na história, se levanta busca uma camisa guardada na mochila, tira a camiseta do Cinema em Rede e mostra como entende que Pedro se vestiria, nisso aponta sentimentos que acredita que o personagem carrega. Mas uma barba pode se tornar o grande conflito de SIMONE. Um conflito pelo menos para alguns instantes na tarde de hoje. Roberto Berindeli depois das gravações do filme SIMONE fará parte do elenco de um filme que passa no século XVI, e convenhamos neste tempo homem sem barba não seria nada real.

            E agora, será que Pedro aportaria uma barba grande e densa como a de Roberto? Conflito? Drama? Remarcar as gravações? A atriz Simone Telecchi chega na terceira sala, abraça forte Roberto e com leves insinuações se ‘aconchega’ na barba de Roberto. E concluímos que no fim das contas e nas devidas circunstâncias a personagem Simone se apaixonaria por um homem como Pedro...com dois meses de barba...e vocês entenderão em breve – NOS CINEMAS – os motivos que nos levam a acreditar nisso.

            Terminamos o bolo de cenoura com cobertura de chocolate e saímos todos da Zapata Filmes.



 
2. INTERNA - NOITE - UFRGS

Corredores de uma universidade.
Alunos reunidos nos corredores falam agitadamente.
Meninas vestindo camisetas do filme SIMONE recebem estudantes.
Na entrada de um auditório é distribuído Red Bull.
É possível que até o final todo criem ‘asas’.

Quem sonha com fazer cinema aqui? A maioria da platéia levanta as mãos. Mãos suficientes para colocar muitos tijolos em qualquer construção, especialmente as coletivas. E os tijolos seriam tristes? Aliás, o quadro branco no fundo dos palestrantes é triste? Ou o quadro é apenas branco? Conversa para uma mesa de bar depois de uma palestra que nos provoca intensamente.

Imagino que não estejam entendendo muita coisa. Um roteiro confuso, confesso. Estamos em meio a palestra da equipe do filme SIMONE na Fabico, UFRGS, sobre processo coletivo de construção de um roteiro. Roberto Birindelli traz como referência o dramaturgo Eugênio Barba e a nossa tendência ‘natural’ de criar gavetas para as desordens de nossa vida. Ou, então, nos projetamos como atores e desengavetamos tudo. E Roberto reconhece nesta possibilidade de desfazer gavetas no processo do roteiro, o maior mérito de Juan Zapata. E o diretor – não tenho dúvidas-, gosta mesmo é de mexer nas suas gavetas e na do público.

            Simone Telecchi que também permitiu desengavetar sua história estava entre os palestrantes e talvez agora consiga resumir como ninguém do que se trata o filme SIMONE: ‘um filme baseado numa história real, numa pessoa real, mas não necessariamente com fatos reais’. Roberto não sabe se gostaria de entender o quanto é real ou não. Ele é ator e quer tirar também de suas gavetas os sentimentos de Pedro.

            Eu disse, que até o final todos sairiam dali com ‘asas’. Culpa do Red Bull, ou da proposta do Cinema em rede? 



3.    INTERNA – APARTAMENTO CLARISSA/SIMONE – NOITE

Uma sala com um espelho central, em volta dele duas estantes de livros, Frida Kahlo no topo de uma delas.
No outro canto da sala uma estante também com discos de vinil. Um tapete vermelho e muitas almofadas.
A geladeira cheia de imãs.
Um banheiro com tons amarelos
Um quarto com uma cama gigante em frente a porta da sacada.
Um corredor com flores miúdas nas paredes.

            Simone Telecchi lembra do seu antigo apartamento. Parece se sentir em casa. Dorinha certamente se sente em casa e se joga nas almofadas. Estamos no apartamento de Clarissa Brittes. Uma pessoa deveras interessante só pelas suas referências. Um quadro do filme Blow up acima de um sofá em tom azul escuro. Difícil algum de nós não se encontrar ali. O apartamento está a venda? Levaria tudo!

Estamos na locação que será a casa da personagem Simone. Para mim não poderia ser diferente. E Cris será que se sentiria em casa também por ali?



4.    INTERNA – PRODUTORA – MADRUGADA

Na sala dos fundos uma impressora está funcionando.
Sobre a estante wisky Jack Daniels e Red Bull.
Três jovens trabalham na sala. Uma moça no computador voltado para as janelas, um dos homens está sentado no sofá em frente ao espelho, o outro em frente ao computador voltado para o quadro de Miró.

Sexo, pudor y lágrima foi um dos filmes procurados no youtube. A trilha sonora emociona Juan Zapata que canta em espanhol com veemência. Edson Gandolfi ri. Madrugada de virada. Virada para decupar o roteiro do filme SIMONE. Beto Picasso necessita da decupagem técnica para amanhã. Há muito trabalho pela frente. Mas, precisamos também falar muito de mulheres: de suas intensidades, sexualidades e idades. Facebook’s são investigados, fotografias são ‘miradas’ com cuidado. Tudo bem, não se trata de dois homens tarados procurando mulheres gostosas para saciar qualquer fetiche. É SIMONE que precisa delas. E Cris não pode ser qualquer mulher. Mas, como é Cris? Cabelos curtos? Primeira cogitação a ser revista. Mas, como é Cris? Uma atriz estrangeira no Brasil ou talvez uma atriz do interior em Porto Alegre?

Voltamos a decupagem. Diárias longas. Madrugada longa. E cada vez mais nos voltamos para as referências, a ponto de depois de duas horas estarmos ainda na segunda cena. Vamos trabalhar, não? Eu sou mais visual, que textual diz Gandolfi para fechar as ‘pérolas’ da noite. Então, acorda Gandolfi!!